Temos de saber levar a vida ao encontro do nosso destino e do que queremos ser. Se há coisa que nestes últimos tempos aprendemos foi a não planearmos rotas, a não perder mais tempo. Temos de saber levar os dias da melhor forma, mas só em maio essa esperança voltou. Aproveitei a viragem da vida para aprender a não contrariar o que não controlamos. Aprendi a contrariar os dias cinzentos e chuvosos com uma boa dose de gargalhadas.
Deixei finalmente, em maio, o medo e a ansiedade em casa e saí à rua. Alimentei-me dos abraços que tinha em falta das minhas pessoas e satisfiz os meus desejos.
O melhor de tudo isto foi aperceber-nos, por fim, que somos presenteados todos os dias por termos alguém que cuide de nós, que se preocupe connosco, com sorrisos de apoio e com abraços com cheiro de lar. Os momentos tornam-se rapidamente bons quando sabemos que temos quem gostamos por perto. Nem sempre damos o devido valor aos afetos e à companhia que temos e foi altura de nos ensinarem o que a falta das coisas mais simples nos faz. Cada gesto, cada sorriso e cada toque passaram a valer milhões e não podemos comprá-los.
Perdemos tanto tempo, andando de um lado para o outro, tentando chegar a algum lugar, a querer chegar primeiro, a ter primeiro, a adiar reencontros com os amigos e o abraço dos nossos avós, porque julgamos que os temos sempre por perto. A questão é quando estamos perto, mas não podemos vê-los ou tocá-los, quando temos de permanecer em constante desassossego por não os ter ao nosso lado.
Quantas vezes estivemos em tantos lugares só de corpo presente? Quantas vezes estivemos mesmo presentes ao lado de alguém? Estar não é só de corpo, é preciso estar com vontade, sem mais coisas em mente. Só reparamos na falta que as pessoas nos fazem quando olhamos para o lado e não temos ninguém, quando sabemos que nada é igual com o vazio em nosso redor.
Todavia, foi somente agora que aprendemos o verdadeiro significado da amizade com a distância e a falta de presença física. Mas presentes sempre podemos ficar, quando assim o queremos e damos o nosso melhor a quem gostamos.
As lições que tiramos de tudo isso são maiores do que todo o mal que achamos que nos fez este tempo de pausa. Foi necessário abrandar, para podermos voltar a regressar de mentes abertas e com vontades diferentes, com outro significado para o tempo. Foi-nos exigido calma e paciência porque é algo que nunca temos. Não sabemos parar, sossegar e refletir. Dormimos, mas sempre com a mente vasculhando algo a fazer no dia seguinte.
Só agora sei que parar é isto: somente estar sozinho, com a nossa própria mente e sossegá-la, dia após dia, até que a mesma já não se inquieta. Aprendi a estar serena e aceitar o trajeto que fiz até aqui chegar e a aceitar o tempo dos outros. Aprendi a ter esperança, mesmo sem arco íris no céu. Aprendi a ter esperança em plena tempestade e nada ruiu.
Estou grata por maio, pela esperança, pela vontade, dedicação, partilha, alegria, reencontros e pequenos começos. Grata por poder ter voltado ao trabalho recentemente e fazer o que mais gosto de fazer. Grata por estar bem de saúde e encarar cada dia com o mesmo entusiasmo. No final do dia, do mês ou do ano, vemos/veremos sempre que há mais coisas a agradecer do que a lamentar.
Agradeço pela pausa forçada, ainda que isto cause tanta perda a tantas pessoas, porque talvez assim possamos também curar-nos de outras doenças igualmente perigosas. E porque agora sabemos o que realmente vale tudo. Vem daí, junho! ☀
2 Comentários
Era preferível, em vários aspetos, não ter passado por nada do que passamos. Mas, tendo em conta que isso não é possível, pelo menos, que tínhamos a capacidade de retirar lições destes tempos. Para, precisamente, valorizarmos o que temos na vida; para valorizarmos aqueles apontamentos que valem o mundo e nem sempre percebemos.
Espero que junho te reserve coisas maravilhosas, minha querida <3
Totalmente. De dia para dia acredito que temos de agradecer por cada detalhe do nosso dia.
Muito obrigada querida ❤️ para ti também todas as coisas boas do mundo!