Gostava de ter tido uma adolescência assim. Poder sair de casa à noite com os amigos, descobrir encantos em cada esquina, rir às gargalhadas com as asneiras, com os jogos e voltar para casa com o coração cheio. Gostava de ter tido um amor adolescente assim, que me levasse e apresentasse aos amigos, numa das nossas saídas noturnas ou numa saída tardia à praia ou ao bar da colina, que gostasse mesmo de mim, sem qualquer outro impedimento.
Gostava de ter tido a oportunidade de viver um amor adolescente, de ter sido uma amiga ainda melhor do que fui e de ter tido um namorado como nos livros, onde quase tudo é mágico. A vida é revoltante e às vezes, quando rodopio sobre mim mesma, vejo que quase nada vivi nestes curtos anos de existência. Conto pelos dedos de uma mão, as vezes, em que cheguei de madrugada a casa, por ter saído com amigos, na adolescência.
Nem todos temos a liberdade de ser, desde novos, os nossos próprios donos, mesmo quando erramos. Nem tinha muita oportunidade de errar, porque não havia meios, quando às 22h00 estava na cama, num sábado, enquanto os meus amigos estavam a desfrutar noutra esquina, o quanto eram livres e felizes.
Gostava de ter podido rebelar-me mais, ter saído mais, ter amado mais, ter tido mais coragem de ser o que queria ser. Agora parece tarde demais, para voltar a viver como uma adolescente, quando já tenho tantos encargos à minha volta, quando já passei da idade de me rebelar. Ou talvez, nada seja tarde e me falte apenas a coragem e a liberdade de poder sair e me divertir com quem mais gosto.
Faz-me falta uma adolescência vivida assim, com toda a intensidade e alegria, quando a minha foi apenas conhecida por ser mais uma jovem com depressão e problemas. Se pudesse ter saído, me divertido mais, ter o coração cheio e partido também, talvez a depressão não tivesse aparecido.
Tantos são os “e se’s” que agora encontro, sem volta, apenas com revolta, por não os ter vivido. A falta de liberdade é o que nos faz, muitas das vezes, entrar num abismo fundo e escuro, por não termos a oportunidade de nos divertir e ser jovens felizes. Como gostava de ter tido a oportunidade de ser uma jovem assim…
2 Comentários
Há alturas em que também gostava de ter aproveitado mais. Talvez nem fosse por uma questão de falta de liberdade, porque, nesse aspeto, não me posso queixar muito, mas uma questão de disposição – e das próprias companhias.
Seja como for, acho que todos estes pormenores moldam o nosso crescimento
Sim, acredito piamente que sim. Tudo contribui para o nosso percurso e crescimento. Não podemos voltar atrás, mas podemos aproveitar o que temos hoje.