2020 ou o ano mais difícil de sempre

A entrada em 2020 foi bem planeada, mas rapidamente se tornou caótica. Nada previa, contudo, que a confusão estava apenas a começar. Remei contra a maré desde o primeiro passo que dei, no primeiro dia do ano. Desejei ser mais ponderada e menos desbocada e explosiva. O máximo que consegui foi dormir alguns dias descansada, sem interrupções. Conheci vários lugares (mais do que esperava) e tentei divertir-me sempre ao máximo. Aprendi a deixar as coisas irem, a tomarem o seu rumo sozinhas, a deixar que algumas pessoas me procurassem, e nas suas ausências cresci e apercebi-me de que nem todos são amigos, nem todos estão cá quando mais precisamos.

A cada passo e solução que arranjava, mais se juntavam outros problemas. Foi difícil deitar a cabeça na almofada e não pensar demasiado sobre a vida e sobre decisões que tinha mesmo de tomar. Foi difícil acalmar-me depois de tantos ataques de pânico, foi ainda mais difícil admitir que precisava de alguma ajuda, porque sozinha iria cair e jamais me levantaria. Eu, que sempre gostei de fazer tudo sozinha, que pensava no começo de 2020 que ia ser mais independente, vi-me dependente de todos à minha volta e necessitei de toda a ajuda possível.

Há anos que nos marcam. 2020 só quero esquecer e habituar-me às cicatrizes que o mesmo deixou. Foram muitas as fragilidades, quedas, decisões, medos e raiva. Resumindo, mas beeem resumido mesmo, isto foi o ano mais difícil de sempre, eis o porquê:

• • Explodi constantemente e nunca tive um ano em que explodisse tanto e em que não conseguisse manter a calma nunca. Foi um ano cheio de coragem para quem me rodeou e levou com o meu humor de merda.
• • Tomei imeeeensas decisões. Todas importantes, algumas extremamente importantes, outras que me arrancaram pedaços, mas segui. Segui como sempre faço, mas não de forma serena, como ansiava seguir. Só que, devido a todas as coisas más de 2020 e às minhas constantes vontades de mandar tudo à merda (sendo mesmo simpática, com o uso deste calão), decidi que necessito de voltar a reencontrar a minha serenidade, a minha paz interior. Preciso estar mais calma e 2021 servirá para isso mesmo, para me acalmar, reencontrar e renovar energias.
• • Um ano de muito choro. Afoguei-me em lágrimas do primeiro dia e até ao último será igual. Por sensibilidade de mais ou por angústia, só sei que foram muitas as noites em que chorei até adormecer profundamente.
• • Trabalhei e agi na base do ódio, dia após dia, stress após stress. Só por isto, atraí todas as más energias e isso não me fez ficar melhor. Isto não me fez crescer, como gostaria de ter crescido.
• • Comemorei os 20 anos, em casa, durante a pandemia. Não agradeci pelos 20, nem pelo que me ensinaram. Aliás, saio deste ano, sem saber bem se aprendi alguma coisa ou se desaprendi tudo.
• • Refleti imenso e cheguei à conclusão de que em 2018 estava mais evoluída como mulher, pessoa e emocionalmente. Este ano regredi de todas as formas possíveis e imaginárias e nem com meditações consegui chegar a um melhor patamar.
• • Deixei-me ir abaixo tantas vezes, deixei de acreditar no meu valor e descambei. Só agora noto o quão forte fui, pois de outra maneira, não chegaria tão longe.

Estes 366 dias foram bons para refletir e para nos apercebermos de que não somos fortes sempre, que também caímos. Foram bons para vermos o quanto aprendemos antes, colocando em prática agora. O presente foi duro, emotivo, destruidor. Acima de tudo, não me faltou muito. Os abraços já os tenho, as palavras sempre as tive, as saudades irei sempre ter, pois existem presenças que sempre nos irão faltar. Só que a vontade continua mais forte do que nunca e a coragem nem sempre vacila.

Não dei tudo de mim nestes dias, mas dei o meu melhor e isso é tudo. Soube dar a mão, ajudar, apoiar e amar. Não nos faltou o que comer ou teto para cobrir. Quando fui-me abaixo na pandemia pensei nas pessoas que nem tanto tinham e soube imediatamente, que não tinha que reclamar. O que temos de mau, curamos, com o tempo, com esforço, com a ajuda certa. O resto? O resto, só quem passa sabe e nem sempre, pensamos nisso. Há quem precise mais e não tenha o que temos. Que o Covid-19 nos tenha trazido um pouco de gratidão, que saibamos agradecer e saber o porquê de sermos gratos. 

Definição para 2021: será o que tiver de ser.

Há anos que sinto que em 2021 acontecerá uma coisa muito boa. Não deixo que esta expectativa defina este novo ano, muito menos me guie. As expectativas até agora só me desiludiram e é por isso, que entrarei nestes novos capítulos, com a alma mais calma, pois não existem promessas, nem objetivos, nem expectativas. Tudo o que vier será bem recebido e agradecido. Estarei pronta para o que virá, pois estes 366 dias fizeram-me ver o quão teimosa e forte sou. Deixarei fluir. Tudo o que vier é merecido, seja bom ou mau. Afinal, tudo o que se planta, um dia se colhe.

Querem um conselho para a vida? Não façam planos. Este último mês fez-me ver que nada somos de um momento para o outro e que, com o Covid-19 tudo pode mudar em segundos. A minha cara-metade continuará em isolamento profilático e a nossa passagem de ano será à distância, quando tínhamos planeado de maneira diferente. Somos muito pequeninos e num segundo tudo muda. Vivam o presente! Não planeiem um futuro que pode não ser vosso.

A todos os que me leem: que seja um ano de amor, companheirismo, bons cafés em mesas rodeadas de amigos, boas conversas, muita motivação, muita saúde e conquistas. E lembrem-se, o que não acontecer será porque não tinha de ser. Façam o melhor por vocês e tenham paz nos vossos corações. Plantem coisas boas. Sejam amigos e digam a verdade. Não criem ilusões. A vida sabe melhor, quando é vívida de verdade, na sua real realidade. O resto? Há-de se ver!

Um bom ano a todos! ❤