Depois da entusiasmante e deliciosa leitura de Chocolate, eis que tive o prazer de regressar à vida de Vianne Rocher e Anouk, agora com mais um elemento.
Sapatos de Rebuçado é o segundo volume do quarteto Chocolate, que nas leituras de 2019 mencionei que desejava muito ler.
Depois de fugirem de Lansquenet-sur-Tannes, Vianne Rocher, acompanhada das suas filhas, Anouk e Rosette (a sua filha especial), refugia-se numa loja de chocolates, em Paris. Surge como Yanne, Anouk como Annie. Após quatro anos de estabilidade no mesmo sítio sem fugirem, eis que Zozie de l’Alba aparece, mostrando-se ser uma amiga, mas que mudará tudo.
Ao longo da narrativa temos três histórias: a de Vianne Rocher, de Zozie e de Anouk. Anouk, no início da adolescência, sendo vítima de bullying na escola, a precisar de voltar ao local onde foi mais feliz, a adaptar-se a ser uma pessoa vulgar como todas as outras.
É conquistada pela sedução de uns sapatos de rebuçado, pela compreensão de alguém que lhe faz lembrar o que a mãe foi, nos tempos da chocolaterie em Lansquenet-sur-Tannes. Vemos o seu medo de tentar usar a magia — algo que a mãe dizia que não existia —, mas ao mesmo tempo, tentada a usá-la para seu proveito. Para que tudo voltasse a ser como antes.
“As crianças são como facas, dizia a minha mãe. Não têm essa intenção, mas a verdade é que cortam. Contudo, apegamo-nos a elas, apertamo-las contra nós até sentirmos o sangue fluir.”
Zozie será o tempo da mudança, desviando Anouk da mãe, mostrando-lhe a magia como ela é. Zozie, uma mulher que já roubou várias vidas, que já teve vários nomes e várias facetas. Agora sente que tem uma boa adversária, que sabe tanto de magia quanto ela. Rapidamente, descobre os segredos de Vianne, intromete-se no seu casamento com Thierry e na sua relação com Roux. Sabe todos os seus segredos, sabe como derrotá-la, qual o seu ponto fraco e todo o seu empenho é para que possa conseguir roubar mais uma vida, ter mais uma identidade. Mais um amuleto na sua pulseira.
Vianne, como Yanne, desenlaça-se de Thierry, o proprietário da chocolaterie e rende-se finalmente a Roux, o pai de sua filha Rosette. Ao mesmo tempo, vai notando o quanto a sua filha Anouk, a sua filha do verão, vai mudando, vai-se afastando.
É no final, que Zozie ditará o futuro. Escolhe o que anseia, o tempo necessário até conseguir o que quer e deixa a mais difícil das decisões para a Anouk. É somente no final que a adolescente irá ver as verdadeiras cores de Zozie, da amiga que pensava que tinha e que preferia à sua própria mãe.
“ — Todos os corações que tu arrancaste. E no entanto ainda não tens um que seja teu. Era por isso que me querias? Para nunca mais estares sozinha?”
É um livro sobre escolhas, magia e chocolate. Sobre não podermos negar-nos a nós próprios. Durante a leitura, só tinha a ânsia de regressar a Lansquenet-sur-Tannes, onde em Chocolate, a magia foi magnífica e a história incrível.
Felizmente, n’O Aroma das Especiarias, voltaremos à vila onde tudo começou. É o próximo livro que tenho na estante e espero que seja tão brilhante quanto o primeiro. O regresso a Chocolate foi bom, cheio de magia, intriga e chocolate, mas não foi o meu preferido (infelizmente).
4 Comentários
Só li um livro desta autora – Cinco Quartos de Laranja -, mas fiquei cheia de vontade de me aventurar em mais obras da sua autoria. Vou levar esta sugestão 🙂
Vais amar este quarteto do Chocolate! É fantástico!